sexta-feira, 19 de março de 2010

a culpa é nossa


Seu espelho encontra-se quebrado e a culpa não é minha. Não rebata meus passos, não dependes de mim pra andar, quanto mais dos meus atos pra reagir. Vou queimar sua escada de madeira, talvez você pare de subir e jogar um balde de culpa em mim.
Seu carro bateu no poste e a culpa não é minha. Talvez eu te dê de presente novos retrovisores e você irá olhar que não fui eu que te fechei e sim, sua vista que se encontrava embaçada. Tudo fica embaçado porque você deixa, eu sou o parabrisa, fico tão perto, gritando pra que você suspenda a alavanca para que eu faça meu trabalho, mas você insiste em pisar no acelerador, pra depois falar que a culpa foi minha que não limpei aquilo que você tinha que dar o ponto de partida.
Seu suéter desapareceu e a culpa não é minha. Reclamas do frio que te congela e esquece da quantidade de vezes em que eu tentei ser uma fogueira e você não abraçou com medo de se queimar. Só o que eu queria era te abrigar, evitar o frio que te transformava em gelo, mas você ficou gripada e jogou facas porque eu não tinha te comprado outro suéter.
Você se feriu com um espinho da rosa e a culpa não é minha. Chora com a dor que o espinho lhe causou, falando que eu devia te alertar do perigo que suas mãos seguravam. Sua falta grande de atenção, não te fez enxergar os pingos de sangue no chão que escorriam da minha mão, que foi ferida quando eu tentei de forma brusca tirar todos os espinhos da rosa, mordendo os lábios para suprir a dor e retirando os espinhos que ficaram em minha mão.
Sua piscina é rasa e a culpa não é minha. Não percebes o mar que te fiz? Você diz enxergar um mar de fogo, essa desvalorização não te mostra a beleza das águas cristalinas que eu passei um longo tempo cuidando.
Do seu quarto só se vê a noite e a culpa não é minha. Se lembras de quando te apresentei o sol e você disse que a luz era muito forte? Não achei suas forças em seguir em frente, seus olhos não são sensíveis e sim sua arrogância te impediu abrí-los. Agora reclamas de que a noite é eterna, acho que esqueceu dos tiros que dei pra impedir a lua quando ela tentava descer.
Perdemos a corrida de revezamento e a culpa é nossa. Quantas vezes eu tentei te alcançar e você tentou fugir? Quantas vezes você tentou me dar as mãos e falei pra seguir em frente e me deixar amarrando o cadarço? Quantas vezes eu estive perto de segurar sua mão e seu medo fez você cruzar os braços?
Não ganhamos e nem perdemos a corrida, mas olha lá você, sempre acha que pode subir no pódio e me molhar com o champanhe de culpa.
Coloco o meu amor em um saco de lixo podre e te dou, duvidando de que você irá guardá-lo em um lugar especial em seu guarda-roupa e irá valorizá-lo.

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